ARTIGO POR FABIO MESTRINER
Sustentabilidade Positiva |
A embalagem precisa parar
de pedir desculpa por existir
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Imagem gerada pela IA do Bing |
Alunos e pessoas que participam dos meus treinamentos em Inteligência de Embalagem se surpreendem com o início da apresentação onde
sempre começo com esta pergunta: “Para que serve a Embalagem?”.
Considero que toda pessoa que trabalha diretamente ou está envolvida na cadeia de produção de embalagem deve ser capaz de responder sem relutar esta pergunta e explicar para que existe e para que serve a embalagem?
A resposta mais simples e direta a pergunta inicial é: “A embalagem existe para. Atender as necessidades e anseios da Sociedade e conforme ela evolui, a embalagem também evolui para atender essas necessidades".
A vida humana exige cuidados, alimentação, abrigo segurança e muita coisa que vai além da mera sobrevivência, por isso o homo sapiens construiu uma sociedade que evolui continuamente e demanda recursos cada vez maiores para sustentar uma população que já ultrapassou o 8 Bilhões de pessoas. Toda atividade humana, (qualquer uma, todas elas) tem impacto no meio ambiente e, portanto, acaba afetando nosso eco sistema.
Isso é um fato que não pode ser ignorado e nesse contexto, a embalagem desempenha um papel crucial.
A Vida humana na terra não é mais possível sem Embalagem!
Eu gosto de lembrar a todos que a principal função da embalagem não tem a ver apenas com o consumo, mas sim que ela existe para sustentar a vida humana dos 8 Bilhões de habitantes do nosso planeta garantindo sua sobrevivência.
Produzir comida é difícil, dá muito trabalho, exige tempo, conhecimento e depende de uma série de fatores que nem todos estão sob o controle dos agricultores. Por isso, tantas pessoas em tantos lugares passaram fome ao longo do tempo e muitas ainda passam.
Não é possível, vacinar uma galinha, uma vaca, um suíno, combater as pragas que destroem as lavouras e os alimentos sem embalagem. Sem ela, os alimentos, os ovos e o leite não conseguem sair do campo e das granjas e chegar até nossas mesas. A FAO estima que 30% dos alimentos produzidos são perdidos por falta ou deficiência de embalagem.
Não é possível tomar um remédio, tratar os doentes nos hospitais com medicamentos, vacinar uma criança sem embalagem.
Para comprar arroz, feijão, fritar uma linguiça, tomar banho, lavar roupa, higienizar a casa, tomar uma cerveja gelada, ou fazer os alimentos chegarem aos pontos mais distantes do país, é necessário embalagens. 80% de tudo que é produzido tem embalagem e ela é o item industrial mais produzido no mundo.
Nesse ponto, sempre tem alguém que entra com a pergunta: “e o impacto da embalagem no meio ambiente?” como vamos resolver isso?
A resposta a essa pergunta exige algumas explicações pois não existe solução simples para um problema tão complexo como: “o que fazer com os Resíduos Sólidos Urbanos, popularmente conhecidos como lixo?”
Não podemos olhar para a embalagem como algo isolado, ela faz parte de algo muito maior pois está inserida no conjunto dos descartes que a existência humana produz.
Mas esse é o descarte que possui uma estrutura de resgate pois, através da reciclagem, da circularidade, da recuperação energética e da reciclagem avançada, boa parte das embalagens voltam ao sistema produtivo gerando valor, trabalho e renda para milhões de pessoas que se dedicam a estas atividades.
Não vou entrar em detalhes sobre estas atividades pois existem milhares de especialistas dedicados a ao tema da sustentabilidade e da circularidade muito mais qualificados que eu para abordá-los, mas vou dizer o que eu penso sobre a questão filosófica que está por trás de todas as práticas humana desde tempos imemoriais.
Mais vale acender uma vela, que maldizer a escuridão!
A frase do venerável Lao T’sé é uma inspiração pois vejo muito sendo feito para mitigar os impactos da embalagem no meio ambiente, muitas velas acessas, ongs, entidades setoriais, governos, fundações, cooperativas, empresas e profissionais de áreas as mais variadas se empenhando para pensar e contribuir para a evolução este tema e dedicados a atividades práticas que contribuem para minimizar o problema.
Não veremos o fim do mundo, nossos filhos, netos e bisnetos muito menos pois temos tempo para trabalhar e construir soluções que não resolverão totalmente o problema pois como afirmei no início desse artigo, todas as atividades humanas têm impacto no meio ambiente, isso não pode ser evitado, mas seus impactos sim, podem ser reduzidos com trabalho, ciência e dedicação consciente de todas as pessoas de bem.
O Milenar livro de sabedoria i Ching nos ensina que: “aquilo que deteriorou por culpa do homem, pode por seu trabalho ser restaurado” e pensando nisso, eu vi uma foto no Times de Londres mostrando um pescador orgulhoso que havia acabado de pescador um Salmão de 12 Kg no rio Tâmisa dentro da cidade. Esse rio, que já foi o mais poluído do mundo hoje oferece um peixe que exige água limpa e oxigenada para viver.
Sim, é possível despoluir o rio Tietê, o rio Pinheiros e todos os rios da terra, eliminar os lixões e reaproveitar todas as embalagens produzidas.
Mas antes precisamos de saneamento básico, precisamos eliminar as favelas de palafitas, a miséria que vive na margem dos rios do mundo que levam os detritos para o mar. Precisamos de esgoto, coleta seletiva, educação que ensina que não se deve jogar lixo na rua e tantas coisas que quase nos faz desanimar e desistir...
Mas aí lembramos de velho Lao T’sé com sua mensagem de esperança que nos anima a prosseguir acendendo velas e deixando de maldizer a escuridão como fazem muitos que tem como forma de vida apavorar as pessoas ameaçando-as com o apocalipse ambiental e o fim dos tempos, apenas para conseguir doações e sustentar seus propósitos que nem sempre visam aquilo que preconizam.
Embalagem não é Lixo!
Os resíduos sólidos urbanos RSU, pejorativamente chamados de lixo, são compostos principalmente por resíduos orgânicos, as embalagens ao contrário desses componentes orgânicos, podem ser recuperadas, recicladas ou, retornadas e para que isso aconteça em maior intensidade, é preciso comunicar a informação sobre a reciclagem de forma clara e visível para que sua presença aja de forma educativa indicando que aquele item pode ter um destino diferente voltando a ser útil e evitando que venha prejudicar o meio ambiente "e mesmo a embalagem que não é reciclada hoje... amanha o será, porque a evolução não para"
A ABRE, Associação Brasileira de Embalagem acende uma vela quando disponibiliza em seu site informações relevantes sobre sustentabilidade como os ícones da simbologia de reciclagem e o projeto Lupinha, uma iniciativa que traz para a embalagem, de forma inovadora informações sobre como encaminhar de forma correta a embalagem para a reciclagem. Na Europa, começam a aparecer na frente das embalagens e não mais escondidas no verso as informações sobre reciclagem e sustentabilidade, separando de forma clara as embalagens dos demais resíduos, orientando seu encaminhamento e chamando a atenção dos consumidores de forma educativa mostrando que esta informação é tão importante que veio parar no painel frontal da embalagem. Vale a pena conferir no site da Abre: https://www.abre.org.br/abresustentabilidade/
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A Sustentabilidade Positiva propõe que as empresas divulguem também, juntamente com suas preocupações com a sustentabilidade e o meio ambiente, a contribuição de seus produtos e embalagens para a sustentação da vida humana, afirmem essa contribuição, parem de ter vergonha e de pedir desculpa por oferecerem às pessoas algo tão necessário para sua vida.
Professor Fabio Mestriner
Designer, Professor e Escritor
Especialista em Design & Inteligência de Embalagem
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